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OTITES MÉDIAS
OTITE MÉDIA AGUDA (OMA)
Os processos inflamatórios agudos da mucosa da orelha média são em sua quase totalidade decorrentes de infecções virais e bacterianas das fossas nasais, seios da face e rinofaringe. Também a alergia é causa ou fator coadjuvante freqüente. A via de contaminação é a tuba auditiva; relacionam-se sempre, em maior ou menor grau, com circunstâncias que desembocam no quadro de disfunção tubária.
Fatores Desencadeantes:
a) Extrínsecos: variações climáticas (maior incidência nos meses frios do ano), natação (aumentando as rinossinusites por entrada de água pelo nariz), poluição ambiental, mamar com a cabeça baixa, deitar em seguida à mamada, convivência em creches (maior incidência de rinossinusites), etc..
b) Intrínsecos:
1- Idade: crianças pequenas são mais acometidas, geralmente até a idade de 3 ou 4 anos, quanto usualmente as crises se abrandam. Esta incidência maior nesta faixa etária se explica pelos seguintes fatores:
- maior número de infecções de vias aéreas superiores
- tuba horizontal e mais curta que no adulto, facilitando a entrada de germes a partir da rinofaringe, ou mesmo de leite durante as mamadas.
- tecido linfóide abundante no cavum (adenóide), quer por edema ou hipertrofia, e que frequentemente leva ao bloqueio funcional da tuba, desencadeando a otite.
2- Alergias respiratórias: por gerar edema e obstrução tubária, e pela depressão imunológica que geralmente se associa, aumenta a incidência de rinossinusites.
3- Fenda Palatina, que mesmo em graus leve ou inaparente (fenda submucosa), está acompanhada de alteração da fisiologia e tonus muscular da faringe, com prejuízo do mecanismo de abertura da tuba na deglutição e também refluxo alimentar para a nasofaringe/cavidade nasal .
4- Refluxo gastro-esofágico: é um fator que deve ser pesquisado principalmente em lactentes.
1- Otite Média Aguda Viral
- Geralmente aparece no curso do resfriado comum ou gripe.
- Pode ocorrer como quadro isolado, sem sintomas nasais ou faríngeos.
- Etiologia:
* Adenovirus
* Vírus SR
* Mixovirus
* Paramixovirus
* Rinovirus
- Quadro Clinico:
* Sensação de oclusão/pressão nos ouvidos
* Autofonia
* Ruídos (estalos, zumbidos)
* Dor moderada
* Febre baixa
* Perda auditiva variável
* Sintomas nasais/faríngeos.
- Exame Otoscópico:
* Hiperemia moderada da M.T. geralmente restrita ao cabo do martelo
* Espessamento da M.T.
* Presença de derrame liquido seroso com nível liquido ou bolhas de ar (pode estar ausente)
- Tratamento:
* descongestionantes tópicos nasais por curto período/sistêmicos
* anti-inflamatórios não hormonais
* anti-histamínicos (discutível)
- Evolução: 5 a 10 dias, com curva total.
- Complicações:
* Otite média serosa sub aguda.
* O.M.A. bacteriana
* Labirintite toxêmica
* Labirintite viral aguda.
VARIANTE: Miringite Bolhosa: acometimento agudo da M.T., com ou sem derrame liquido na orelha mádia.. O folheto externo da M.T. separa-se do médio, com formação de vesículas com liquido claro no seu interior.
O quadro é de aparecimento súbito, com dor lancinante, hipoacusia de leve a moderada, com eventual otorréia. Evolução: 10 a 15 dias.
2- Otite Média Aguda Bacteriana
Incidência: alta nos primeiros anos de vida. Pode ser uni ou bilateral.
Fatores desencadeantes:
* Infecções vias aéreas superiores.
* Adenóides/hipertrofia adenoidiana..
* O.M.aguda viral
* O.M. serosa crônica
* Alergias vias respiratórias.
Etiologia: Os germes mais frequentes são :Streptococo, Pneumococo, Stafilococo, Branhamella catarralis. Em crianças até 2 anos, encontra-se grande incidência de Pneumococos e Haemofilus Influenza.
Tratamento:
Consiste em antibioticoterapia, por um período de tempo de 10 a 15 dias. As droga de eleição é a amoxicilina, podendo ser usadas penicilina e outros antibióticos de largo espectro. Para os germes produtores de beta-lactamase usar cefalosporinas e a associação de amoxicilina com ácido clavulâmico (quando não houver melhora clínica depois de alguns dias de tratamento).
Devem ser associadas medidas sintomáticas de alivio da dor e da febre, como calor local e analgésicos/antitérmicos.
Nos casos de recorrência ou dificuldade de resolução, está indicada a realização de miringotomia ou paracentese para alivio da dor, drenagem da secreção e arejamento do ouvido médio. O uso de gotas auriculares traz pouco ou nenhum benefício no tratamento, e via de regra não devem ser prescritas, salvo na fase de supuração, quando exista solução de continuidade entre o ouvido externo e médio.
Evolução clínica: pode ser divida nas seguintes fases:
a) Fase de Inflamação:
Caracteriza-se por congestão e edema do muco-periósteo da orelha média e mastóide, com derrame liquido no inicio sero-fibrinoso, em seguida muco-purulento.
Sintomas e sinais:
* Sensação de pressão/obstrução no ouvido
* Dor progressiva
* Febre e toxemia
* Hipoacusia progressiva e proporcional ao derrame
* Ruídos.
* M.T. hiperemiada/espessada/abaulada
b) Fase de Supuração:
Se a miringotomia não for instituída, o abaulamento da MT. poderá culminar em rotura espontânea e otorreia. A mucosa está muito edemaciada, podendo ocorrer bloqueio do ádito e mastoidite.
Sintomas e Sinais:
* Perfuração de Membrana timpânica e Otorreia
* Alivio da dor
* Lise da febre
* Aumento da hipoacusia.
c) Fase de complicação:
Se não ocorrer a drenagem, a pressão na O.M. e a agressividade do agente causam danos em estruturas e compartimentos, por descalcificação e reabsorção osteoclástica, podendo causar:
* Mastoidite aguda
* Abcesso subperióstico
* Abcesso extra-dural
* Meningite
* Tromboflebite seio lateral
* Abcesso cerebral
* Labirintite supurada
* Paralisia facial
d) Fase de Resolução:
Pode se interpor em qualquer das fases anteriores
A resolução deve monitorizada pela avaliação clinica e impedanciométrica podendo deixar sequelas como um neotímpano, timpanoesclerose ou calcificações.
3- Otite Média Necrótica Aguda
Caracteriza-se por curso rápido, com amplas zonas de destruição de tecido, levando a perfurações timpânicas.
Incidência: * Criança debilitadas
* Em doenças exantemáticas (sarampo)
Etiologia: Com frequência Streptococo Beta Hemolítico.
Tratamento: * Igual a O.M.A. bacteriana.
* Reconstrução cirúrgica, no caso de sequelas
4- Otite Media Latente do Lactente (otoantrite)
Cursa com Quadro Polimorfo, insidioso e de difícil diagnostico. A criança apresenta febre alta, diarréia aquosa e rebelde, vômitos, perda de peso, eventual meningismo, e ausência de sintomatologia objetiva
A otoscopia é normal ou apresenta opacificação discreta, e por este motivo o diagnóstico é retardado. Diante da suspeita clinica, a confirmação da presença da patologia é obtida pela Imitanciometria ou mais frequentemente pela Paracentese de prova. Além da confirmação diagnóstica a paracentese proporciona rápida melhora do quadro geral.
5- Barotrauma
Inflamação traumática produzida na M.T. e ouvido médio, por elevação abrupta da pressão atmosférica, na presença de disfunção. tubária.
Ex.: paraquedismo, pousos rápidos, mergulhos em profundidade.
Sintomas e sinais:
* Dor
* Zumbidos
* Hipoacusia
* Derrame seroso
* Pontos hemorrágicos
Tratamento: analgésicos e anti-inflamatórios
GALERIA DE FOTOS
........MT normal...................OMA na fase inicial................OMA estabelecida.............OMA com otorréia
Mastoidite aguda (complicação da otite média)
OTITE MÉDIA CRÔNICA (OMC)
A otite média crônica por definição é o processo inflamatório/infeccioso crônico da orelha média cursando geralmente com perfurações da membrana timpânica, mas pode existir sem perfuração (otte média secretora). O nome é inapropriado em certas circunstâncias, como na otite média crônica simples, que pode cursar com crises periódicas de agudização devido à perfuração da MT sem haver realmente uma inflamação crônica da mucosa da orelha média, mas é de uso rotineiro e consagrado.
OTITE MÉDIA CRÔNICA
CLASSIFICAÇÃO:
OMC SIMPLES
OMC COLESTEATOMATOSA
OMC SECRETORA
OTITE MÉDIA CRÔNICA SIMPLES
A queixa dos pacientes portadores dessa afecção é de deficiência auditiva e otorréia , em geral , intermitente, com longos períodos de remissão. É otopatia indolor. Esta afecção se inicia, via de regra, na infância e é consequência de uma otite media aguda necrosante, onde houve destruição da membrana timpânica e, frequentemente também, da cadeia ossicular. Portanto à otoscopia, encontra-se sempre uma perfuração de membrana timpânica de tamanho variável, uma mucosa da caixa do tímpano que, visualizada através da perfuração, pode apresentar-se hiperemiada, edemaciada e secretora. Na fase de remissão, quando não há infecção na caixa, vê-se apenas a perfuração e a mucosa timpânica normal.
As reinfecções destes tímpanos comprometidos são causadas por rinofaringites ou por contaminação externa ( em geral banhos de piscina ou de mar). Têm como agentes etiológicos as bactérias gram-negativas.
A deficiência auditiva varia de acordo com o grau de destruição da membrana e da cadeia ossicular e pode ser medida através da audiometria.
Na fase de supuração o tratamento é clínico, e deve ser realizado com o uso de gotas auriculares que contenham associação de antibióticos e corticóides e, também, descongestionantes. Só nos casos mais resitentes é aconselhado o uso da antibioticoterapia sistêmica. Normalmente o quadro regride só com o uso de gotas locais. Cuidados de higiene local são recomendados, principalmente a não permissão de entrada de água nos ouvidos.
O tratamento definitivo da otite média crônica simples é cirúrgico. Faz-se a timpanoplastia, onde a membrana timpânica é reconstruída por um enxerto, em geral de material autógeno (a fáscia do músculo temporal), podendo ser utilizados outros tipos de materiais orgânicos. Também a cadeia ossicular, se lesada, pode ser reconstruída usando restos dos próprios ossículos , material homólogo conservado e material inorgânico inerte, como próteses de teflon. proplast ou cerâmica.
Otite média crônica simples com vários graus de perfuração da membrana timpânica
OTITE MÉDIA CRÔNICA COLESTEATOMATOSA
CLASSIFICAÇÃO:
OMCC CONGÊNITA
OMCC PRIMÁRIA
OMCC SECUNDÁRIA
Caracteriza-se clinicamente por otorréia purulenta fétida, abundante, sem períodos de remissão, que tem como agentes etiológicos bactérias Gram negativas e anaeróbios e que é resistente ao tratamento clínico, isto é o uso de gotas locais e antibióticos sistêmicos não eliminam a secreção. O paciente apresenta deficiência auditiva, pela grande destruição dos elementos do ouvido médio causada pelo colesteatoma. À otoscopia, revela a otorréia e, após aspiração, uma área total ou parcialmente destruída e retraída, com tecido epidérmico saindo da caixa timpânica, em geral do quadrante póstero-superior do anel timpânico.
O substrato desta patologia é o colesteatoma, que é um tumor benigno formado por um tecido epidérmico que se enovela de forma laminar, como camadas de uma cebola. Tende a aumentar o seu volume destruindo as estruturas ao seu redor, causando complicações locais, como mastoidites, labirintites e paralisia facial, ou endocranianas, como meningites, abscessos cerebrais e cerebelares, entre outros.
Este tumor pode ser congênito onde evidentemente o paciente já nasce com ele; primário - quando, por conseqüência de disfunção grave e crônica da tuba auditiva na primeira infância, há invaginação da pars flácida da membrana timpânica, facilitando o desenvolvimento do colesteatoma; contudo, a forma mais comum é a do colesteatoma secundário, que é consequência de uma otite média aguda necrosante com destruição de toda a membrana timpânica. A pele do conduto auditivo externo, então, invagina-se, invadindo o antro mastóideo, formando o tumor que lentamente aumenta de volume e vai destruindo, paulatinamente, toda a mastóide e os componentes da caixa do tímpano.
A otite colesteatomatosa pode evoluir, praticamente, sem sintomas durante um largo período. Entretanto, repentinamente, pode determinar graves complicações como mastoidites agudas, meningites e abscessos cerebrais.
O clínico e o especialista precisam estar atentos a esta patologia, uma vez que, diagnosticada, deve ser tratada de imediato e cirurgicamente, para evitar as complicações descritas. Muitas vezes o paciente já apresenta a complicação e precisa, então, ser prontamente internado para o tratamento adequado.
A cirurgia é a mastoidectomia radical, onde é realizada a limpeza cirúrgica rigorosa da caixa timpânica e mastóide. Esta patologia é de caráter recidivante e se faz necessário acompanhamento do paciente por longo período de tempo. Há variações na técnica cirúrgica desta patologia , que não serão discutidas neste artigo.
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Otite média crônica (colesteatoma primário) Otite média crônica (colesteatoma secundário)
OTITE MÉDIA CRÔNICA SECRETORA (OMS)
Ocorre frequentemente na infância, devido a anatomia característica da rinofaringe e da trompa de tuba auditiva nessa faixa etária. Também pode acontecer no adulto, por causas secundárias a processos alérgicos, tumores da rinofaringe ou de seqüelas de patologias locais, na infância. Torna-se de grande importância nas idades pré-escolar e escolar, pois a hipoacusia conseqüente leva a criança à atitudes de indiferença, dificuldade de aprender e, mesmo, a outras alterações no comportamento que, muitas vezes, levam a criança à psicoterapia desnecessariamente.
A disfunção tubária mais ou menos intensa leva a formação de vácuo no ouvido médio, ocorrendo na primeira face do processo retração da membrana timpânica . Persistindo a causa, manifesta-se um transudato na caixa timpânica, que com o correr do tempo espessa-se formando exsudato viscoso, que costumamos chamar de “glue ear” (cola).
O paciente queixa-se de hipoacusia, autofonia e sensação de ouvido cheio. Eventualmente esta secreção pode infectar-se e supurar. Na infância estas infecções podem ter caráter recidivante. À otoscopia vê-se o tímpano retraído e opacificado, às vezes hiperemiado. Dependendo da fase, pode-se ver nível líquido atrás da membrana timpânica.O diagnóstico é firmado com a audiometria, onde o gráfico é de surdez de condução, e principalmente à impedanciometria, que se apresenta com uma curva timpanométrica característica - uma curva aplanada, sem pico- e ausência de reflexo estapediano.
O tratamento, nas formas mais brandas, é feito com antiinflamatórios hormonais, descongestionantes e também antibióticos. Nas formas persistentes, a abordagem é cirúrgica, fazendo-se aspiração e drenagem timpânica, através de uma timpanotomia, implantando na membrana um microtubo que aí permacerá alguns meses assim restabelecendo a aeração do ouvido médio.
A otite média crônica secretora tem caráter insidioso e pode ser recidivante, apesar do tratamento cirúrgico.
..OMS - retração da MT....... OMS - grande retração.... Drenagem da secreção e microtubo de aeração
OTITE MÉDIA CRÔNICA TUBERCULOSA
É uma otite média crônica específica que deve ser lembrada em casos de perfuração de MT. Bastante rara, apresenta início insidioso, sendo quase sempre secundária a um foco tuberculoso conhecido. Identifica-se pela presença de bacilos de Koch na secreção. À otoscopia são características as perfurações múltiplas da membrana timpânica.